terça-feira, 10 de setembro de 2013

"O ignorado", de Ângelo Monteiro. (Fragmentos)




Muitos poetas seriam capazes de dizer: só canto o que há em minha frente. Bem poucos perguntariam: Mas o que vejo em minha frente? Estarei vendo alguma coisa? Por que eu serei obrigado a cantar semelhante nada?

(…) E poderá haver alguma coisa dentro de nós, se fora já tudo deixou de existir?

(…) Não será pouco ter apenas Deus por testemunha? E, nesse caso, que destino restará aos pavões?

(…) Na terra o pasto é tão vasto, e o capim tão redentor.

(…) Quem um dia já pastou, saberá lidar com aqueles que não pastaram ainda. Pastai, meus irmãos. Nunca o pasto foi tão vasto. E ainda nos resta uma grande tragédia: a de ter perdido até hoje tanto tempo. (Ângelo Monteiro, O ignorado, IX, pp. 75-77)

***

Que terá a ver o solidarismo do Poeta, em sua alegria nupcial pelas coisas, com um cerrar desfibrado de fileiras em manadas tangidas pelos ventos auspiciosos do mais imediato dos instantes? (Ângelo Monteiro, O ignorado, X, p. 81)

***

O que está muitas vezes por trás da carícia, senão um desejo de prender, para depois deixar perdido? O que se esconde por trás de cada bondade, senão o cinismo de um plano: o de criar em nós a memória de que algo de bom se nos deu, ou de que o Bem habitou, por alguns momentos, o subterrâneo de nossas vidas?
Não seremos só vítimas das armadilhas do Mal, mas vítimas ao mesmo tempo de um plano do Mal sob as aparências do Bem. O pretenso Bem é muito mais sinistro, em seus disfarces, que o escancarado e franco domínio do Mal. Pois o Mal dificilmente enganará aqueles que não querem ser enganados por ele. O Bem, sob as aparências do Mal, muitos podem conhecer, porém o Mal, sob as aparências do Bem, poucos na realidade o conhecem; e, por poucos o conhecerem, a estes se dirige, na maioria das vezes, sua oferta mais tentadora e mais enganosa; a promessa do Paraíso por parte do Demônio vestido de Anjo, ou do Mal disfarçado de Bem.
Conheço até aqueles que envenenam os próprios amigos: que, primeiro, lhes oferecem uma festa, beijam-lhes o rosto, conseguem entretê-los durante toda a noite com jogos e cantigas e, finalmente, os introduzem num carro, de volta à casa, com o veneno destilado, no último brinde, para lhes atuar no sangue pela manhã. Os amigos dormirão confiantes e, quando acordarem, despertarão já na beatitude de outro mundo. (…) (Ângelo Monteiro, O ignorado, V, pp. 53-54)

***

O verdadeiro amor sofre por não poder mais. (…) A confiança, por maior que seja, é sempre pouca para o seu ofício. E a dúvida, por mais ameaçadora, apenas lhe distende as veias para a permanente recapitulação do encontro. Unir para encontrar, ou perder para descobrir, é o seu encanto e a sua missão. (…) É santa a mão que crê e sustenta a outra que sucumbe na dúvida. Mas também é santa a mão que duvida, pois esta, talvez mais do que a outra, deseja crer. É santa a mão que aceita. Mas também é santa aquela que rejeita. Porque quem rejeita, quer receber de novo. (Ângelo Monteiro, O ignorado, IV, pp. 48-49)

***

(…) Quem for capaz de manter a promessa será o Amigo. O Amigo se manterá vigilante, de olhos claros para as armadilhas, terá ouvidos perfeitos, jamais cairá na degradação de perder sua gentileza em ouvir, em perseverar, em compreender, em admoestar, será inquisidor permanente de tudo e me confirmará na Promessa. O Amigo sustentará minha mão para impedir minha fraqueza: porque para o Amigo a pior coisa será explorar o que houver de fraco em minha natureza ou me conservar fraco para, dessa forma, me destruir. (Ângelo Monteiro, O ignorado, II, pp. 37-38)

***

(…) O amor, ao nos ajudar a ser mais o que sempre fomos, aprofunda-nos na direção mais misteriosa e mais preservada de nosso próprio caminho? Penetra em selvas e, sem medo, desce aos mais entranhados subterrâneos? Atravessa os infernos antes de ir em demanda da Luz? Amor que não desce aos infernos ainda pode ser chamado de amor? Ai, ele ultrapassa as sendas mais tortuosas e desencontradas para finalmente atingir o Outro. Ele será sempre a busca de um horizonte que voa. Não é apenas anjo apaziguador, mas insaciável verdugo de si mesmo. O verdadeiro amor sofre por não poder mais. (Ângelo Monteiro, O ignorado, IV, pp. 47-48)

***

(…) Essa capacidade dele se fazer como que invisível, não será uma forma de escapar ser um dia redutível a qualquer padrão? (Ângelo Monteiro, O ignorado, I, p. 33)

***

(…) Ah! O altar da Mãe é também o altar do Verbo. Porque nele cresce e se debate o desespero – ainda que prenhe da mais dolorosa esperança – da chama dessa vela que ora morre, ora revive: nossa alma revolta e transviada que deseja se fundir em algo melhor do que ela mesma, em sua necessidade, em sua culpa, em sua dor, em sua permanentemente frustrada aventura de alegria. (Ângelo Monteiro, O ignorado, III, pp. 43-44

***

Onde encontrar a Mãe para nela, no seio dela, ser Menino Deus? Onde encontrar a Mãe para nela afundar nossa angústia das raízes por nós perdidas antes mesmo de sermos e de nos destroçarmos entre as arestas dessa indesejada existência? Onde encontrar a Mãe para nela morrermos, a mãe redescoberta na menina que se fez serva para ser novamente mãe do Menino recuperado? (Ângelo Monteiro, O ignorado, III, p. 44)

***

(…) O amor, ao nos ajudar a ser mais o que sempre fomos, aprofunda-nos na direção mais misteriosa e mais preservada de nosso próprio caminho? Penetra em selvas e, sem medo, desce aos mais entranhados subterrâneos? Atravessa os infernos antes de ir em demanda da Luz? Amor que não desce aos infernos ainda pode ser chamado de amor? Ai, ele ultrapassa as sendas mais tortuosas e desencontradas para finalmente atingir o Outro. Ele será sempre a busca de um horizonte que voa. Não é apenas anjo apaziguador, mas insaciável verdugo de si mesmo. O verdadeiro amor sofre por não poder mais. (Ângelo Monteiro, O ignorado, IV, pp. 47-48)

***

(…) Quem for capaz de manter a promessa será o Amigo. O Amigo se manterá vigilante, de olhos claros para as armadilhas, terá ouvidos perfeitos, jamais cairá na degradação de perder sua gentileza em ouvir, em perseverar, em compreender, em admoestar, será inquisidor permanente de tudo e me confirmará na Promessa. O Amigo sustentará minha mão para impedir minha fraqueza: porque para o Amigo a pior coisa será explorar o que houver de fraco em minha natureza ou me conservar fraco para, dessa forma, me destruir. (Ângelo Monteiro, O ignorado, II, pp. 37-38)

***

O caminho do Homem para Deus deve ser o mesmo do homem para o Homem. (Ângelo Monteiro, O ignorado, III, p. 43)

***

Se o circo é a nossa única esperança, o que fazer da esperança? E se os palhaços já se cansaram de uma platéia resignada às mesmas graças de que eles já se sentem saturados, que fazer com o próprio circo? (Ângelo Monteiro, O ignorado, I, p. 34)

***

Há homens que vivem no medíocre como na mais plena das beatitudes. Eu não sou um desses homens. (Ângelo Monteiro, O ignorado, VIII, p. 71)

***

A volta à origem. De onde tudo permanece vindo. Como no princípio das histórias de fadas: era uma vez. Onde o era, mais do que lembrança, se torna recapitulação do ser. Assim também o fim das histórias de fadas: E foi ou foram felizes durante muitos e muitos anos. Onde o foi ou foram, mais do que conclusão, é remate do eterno, é felicidade que não conhece duração, é corolário da busca ou do começo. Depois do era uma vez, um foi que persistirá sendo o desdobramento do aceno em que tudo começou ou era. (Ângelo Monteiro, O ignorado, VII, p. 63)

***

Antes a era da criação; hoje a da criatividade. Aos gênios sucederam os contorcionistas e os macacos. E ainda há quem pregue igualitarismos torpes para envilecer os homens além do que já foi dado conseguir.

***

Ninguém achará sua rainha sem que seja, antes de tudo, rei. Quem passa adormecido diante de sua rainha, sem a descobrir, ou descobrindo-a, não a reconhece, perdeu-se a si mesmo. Porém se, ao descobri-la, reconhecê-la e, reconhecendo-a, a coroar, terá seu reino multiplicado e a sua coroa tão luzente como no templo das origens.

(…) É ao mesmo tempo fácil e difícil o grande amor. Fácil porque ele se reconhece logo. Embora difícil seja o caminho para se chegar a ele. Sem pureza jamais se poderá ter dele uma visão, e sim apenas uma miragem: porque de miragens é que se povoam os desertos, mais do que de oásis. (Ângelo Monteiro, O ignorado, VI, pp. 58-59)

***

Por que essa dialética, jamais apaziguadora, entre o homem e as exigências do Ignorado? Onde as nascentes desses rituais de holocausto eterno em que perpetuamente somos imolados, sem sabermos jamais o porquê dessa imolação? Qual seria o nosso verdadeiro nome depois de renascermos e nos perdermos em suas águas? Qual seria o verdadeiro nome da sua beleza, após a termos contemplado em sua nudez? Quem subiu até hoje desse mergulho? Quantos, ai, quantos ainda por ela se afogarão? (Ângelo Monteiro, O ignorado, XV, p. 104)

***

Há homens que vivem no medíocre como na mais plena das beatitudes. Eu não sou um desses homens. (Ângelo Monteiro, O ignorado, VIII, p. 71)

***

As coisas parecem condenadas à carência, à debilidade, à pobreza, à ausência de plenitude, porque a vontade assim o quer, ou porque ela abdicou de ser vontade para, nessa negação, eliminar qualquer resquício de grandeza que possa ainda subsistir no humano? (Ângelo Monteiro, O ignorado, XIII, p. 95)

***

(…) O amor, ao nos ajudar a ser mais o que sempre fomos, aprofunda-nos na direção mais misteriosa e mais preservada de nosso próprio caminho? Penetra em selvas e, sem medo, desce aos mais entranhados subterrâneos? Atravessa os infernos antes de ir em demanda da Luz? Amor que não desce aos infernos ainda pode ser chamado de amor? Ai, ele ultrapassa as sendas mais tortuosas e desencontradas para finalmente atingir o Outro. Ele será sempre a busca de um horizonte que voa. Não é apenas anjo apaziguador, mas insaciável verdugo de si mesmo. O verdadeiro amor sofre por não poder mais. (Ângelo Monteiro, O ignorado, IV, pp. 47-48)
_____________________________________

Pedidos pelo e-mail: liv.resistenciacultural@gmail.com

terça-feira, 2 de abril de 2013

Compre já o novo livro de Aristóteles Drummond

R$ 49,00

E aí o Jango ligou para ele: “O que está acontecendo aí?” E o Magalhães Pinto: “O que está acontecendo, presidente, é que nós chegamos a uma situação em que não há mais diálogo...” E o Jango: “Mas como?! Nós sempre tivemos uma relação de tanto diálogo...” O Magalhães: “Eu sei, presidente, mas não é possível... O presidente fez a opção por um outro grupo, nós lhe oferecemos uma opção pelo nosso lado...” Na verdade, o Magalhães queria ser o candidato do Jango. O Jango, não sabendo o que fazer, passou o telefone para o San Tiago Dantas, e aí o San Tiago falou: “Magalhães, reconsidere isso, segure as pontas. Eu estou lhe telefonando numa mensagem de paz, uma mensagem do presidente da República a Minas. Paz!” O Magalhães respondeu com uma frase histórica: “San Tiago, eu sinto muito, mas, a essa altura dos acontecimentos, os mineiros só terão paz com as forças leais ao Jango no túmulo.” (ARISTÓTELES DRUMMOND).
Fartamente ilustrado, este livro (em verdade, a declaração definitiva do autor sobre a Revolução) traz Apresentação do Gen. Leônidas Pires Gonçalves, Prefácio de Marco Maciel e Posfácio de Paulo Henrique Cremoneze. Edição, organização e notas: José Lorêdo Filho/ Capa e Projeto Gráfico: Caroline Rêgo
___________________________________

Compre já pelo e-mail: liv.resistenciacultural@gmail.com